Regresso ao espaço do ponto de partida e penetra-me este vazio inconsciente, incoerente, reincidente.
Habito de súbito um tempo em que não existimos. Surgem frações de segundo em que me questiono se o passado teve lugar físico fora da minha mente. E de repende ecoa aquela eterna pergunta:
- E se eu nos inventei?
Numa criatividade alucinogénica qualquer, tão realista que só poderia ser minha, criando delírios com pés e cabeça e ilusões sobre a felicidade instável e complexa. Só por me conhecer é que não admito como prova irrefutável da realidade a imperfeição do sonho. Sim, muito provavelmente até o meu subconsciente é inabalável na negação da perfeição idílica.
Tenho esta sensação de estranheza, como se nos fossemos cruzar na rua a qualquer momento e não nos reconhecer. Como se a nossa memória colectiva tivesse um prazo de validade muito curto e fosse necessário reiniciar todos os circuitos a cada instante. Talvez como se o tempo que nos afasta fosse exponenciado e cada hora fossem 3 voltas ao Sol.
Seriam muito curtas essas frações de segundo, não fosse eu ter ganho o vício de prolongar a invasão da dúvida, é a atração pelo surreal que atormenta.
- A tua voz desperta-me, abraça-me, sossega-me.
Desejo é conseguir despertar-me a mim própria. Com a minha voz. Quando diz:
- Alice, acorda.
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