domingo, 7 de fevereiro de 2021

Se eu pudesse ser onda

Se eu pudesse,
Penetrava essa tua tristeza
E embrulhava-me nela devagar
Sem pressas, só a navegar no infinito do tempo
E mergulhar nesse vazio que te roubou o olhar

E demorava-me, ocupando o meu espaço
Trabalhando a infiltração oculta (até para ti)
que faz correr a lágrima que não caiu,
que obriga a soltar o grito esquecido no corpo,
que liberta a voz do medo e numa súbita fúria
destrói todos os lugares miseráveis do mundo.
Assim se transborda a dor de se saber só.

Toda a gente sabe que uma vez cá fora
A dor é um menino pequeno perdido e
deixa de saber entrar.

Se eu pudesse penetrava a tua tristeza e 
arrancava-te dela assim, simples, sem ruído
Ocupando todo o seu espaço.

Quem me dera
Ser onda.