Respondo que o cancro é uma amostra de imortalidade. É uma célula que se esqueceu de quem é e de onde pertence, como se de repente deixasse de fazer sentido viver naquela morada. A partir daí é tudo uma tremenda corrida desenfreada por outros locais, à procura de ser qualquer coisa, ânsia de sobreviver deixando um rasto de destruição, invasão até de si próprio porque nada é suficiente. Já se sabe que a imortalidade anda de mãos dadas com a insatisfação eterna. E se fosse um poema seria um conjunto inevitável de estrofes loucas, cada verso a ser mais forte que o anterior, a colapsar a folha e extravasar o caderno. Palavras que passariam para a secretária, depois para o chão, para a parede, para a pele do escritor até todo o quarto se tornar uma escuridão de letras ilegíveis.
Ainda está para ser inventada psicoterapia para as células perdidas.
Sem comentários:
Enviar um comentário