quinta-feira, 16 de julho de 2020

A ti, que me tens só em noites vazias

Não terá o teu nome
Tal como eu não te tenho
Nem vislumbro o teu sorriso leve
Nem ouço a tua voz cantada
Nem me embala a dança que és

Escrevo no escuro de um silêncio.
Não sobre o teu nome
Não sobre a tua pele
Ainda que sobre ti

E digo que és toda uma outra energia
Digo com verdade, até porque
                não sei viver de outro modo.
E digo que és intensidade e força
Sem medo de quase nomear demais.

E digo que és enigma e insegurança,
Movimento em súbita inquietação.
Tal como és desencontro. Falta de encontro. Falha no conto. Fugaz des(conforto).

Pior é, além disso, seres verso
dos que ecoam em nós
uma vida inteira.
Daqueles sem vergonha
que orbitam um espaço cortical 

sem pedido de autorização formal.

Ainda pior seria seres dúvida,
Não fosse isso a melhor parte da vida

5 comentários:

  1. Na sua poesia, como em toda a forma de arte, a Alice expressa e comunica a sua subjetividade a fim de encontrar similaridades e empatia no leitor ou somente exteriorizar sentimentos (catarse).
    Tenho para mim que a poesia, a par da pintura e da música, sendo universais, são das formas de arte, onde a diferença entre o que vai na cabeça do sujeito-autor, enquanto cria, e o que vai na cabeça do sujeito-receptor enquanto a "lê", apresenta diferenças maiores.
    Estamos num campo onde a subjetividade é imensa, onde um traço tanto pode significar a linha do horizonte como o limiar da porta, onde um som tanto pode traduzir uma imensa angústia como um suave despertar e aonde a palavra tem tanto de íntimo e de particular como de experiência e visão que o sujeito tem sobre o mundo.

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    1. É muito verdade isso Joaquim, é o que torna a arte tão bonita

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  2. Um poema muito bonito, com qualquer coisa de Fernando Pessoa...
    ~CC~

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