Aborrece-me tremendamente o estado das coisas
Esta névoa enjoativa de fumo que paira na cidade
Estes asfixiantes aglomerados de betão e vidro
A rotina insuportável de ir para o trabalho de manhã
Encontrar as mesmas pessoas insípidas do dia anterior
E os carros, sobretudo os carros, em todo o lado, os carros
Mais as notícias cada vez mais defuntas da televisão
O eterno comentário do comentário da frase que ninguém sabe quem disse
Até os melhores políticos, os filósofos, os artistas estão todos enterrados no mesmo quintal
E a repetição, a repetição infinita é um transtorno: repitam, corujas, repitam
Ninguém vos está a ouvir. Absolutamente ninguém
Quero a revolução, não pelo preço das casas, não pelo preço do pão.
Não para esmagar bafientos fascistas, que bem merecem.
Não pela emancipação das massas. Não para salvar o povo do capital.
Não para libertar as mulheres. Não para para aniquilar os rentistas.
Não para acabar com a finança, a especulação e a dívida.
Não para salvar todas as espécies, incluindo a nossa.
Isso tudo, claro. Mas não por isso.
Quero a revolução para voltar a música boa, o gingar da manhã e o sorriso do vizinho.
O que torna tudo muito mais urgente.
terça-feira, 30 de maio de 2023
Quero a revolução
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