domingo, 20 de março de 2022

Nunca foste particularmente bonita
Nem nunca tiveste olhos grandes
Nem houve grande elegância no teu andar
Muito menos suaves melodias na tua voz

Nunca soubeste ter a cadência certa no discurso
Nem expressar com rigor as tuas ideias
Tão pouco ser suficientemente convicta
Para encher salas ou concentrar os distraídos

Sempre te conheci meio tosca, meio sisuda
Um tanto aluada, bastante desorganizada
Sem jeito para orientação temporal
E sem conservar qualquer memória dos espaços.

Praticamente todos os aspectos da vida prática
te ultrapassaram impiedosamente.
Tu, indiferente. Demais era o ócio 
para que fosse fonte de mínimo transtorno.

Massacraste-te só em doses moderadas
Por não seres essa mulher que não há, mas todas são.
Conseguiste até sê-la em alguns dias, com esforço,
como qualquer outra.

Apaixonaram-se uns quantos,
Desapaixonaram-se uns mesmos.
Viveste leve tirando os dias de melancolia. 
Para mim, incapaz de te amar 

serás sempre uma pessoa que sonha.
E que se entristece. E que sonha. 

2 comentários:

  1. Eis o meu retrato feito por alguém que me não conhece. O mesmo é dizer que há vária gente que encaixa no modelo (espero eu que não assim tanta, ou damos cabo do pedigree do mundo).

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  2. Olá Bea, que bom ter-te de volta aqui e que bom é ver que te identificas nas minhas palavras. Não serás certamente tu a dar cabo do pedigree do mundo, antes de tudo serás sempre uma pessoa que sonha também. Muitos beijinhos

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