Um dia sonhei que tinha os teus olhos.
Não, não os olhos.
Um dia sonhei que tinha o teu olhar
cheio, que consegue penetrar a alma e
(des)concertá-la num segundo apenas.
Assim, tal e qual, mulher-tornado
Sem receio da força da sua voz
Nem do poder do seu corpo.
Consciente, ainda que perdida em si
Na intensidade de um levantar voo
E na dúvida recorrente da aterragem
Se te disserem que és em excesso,
responde que de nós só há falta.
Dizer excesso é mera ignorância
da escassa coragem de se ser seu.
Por isso excede-te sempre. Sem hesitação
Sem remorso. Sem lamúria. Sem pudor.
A vida não é feita para se ter grandes certezas.
E não te esqueças, que um dia, três mulheres-tornado disseram:
"O pudor é uma nostalgia, serve para fingir que estão mortos os vivos demasiado incômodos."